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Grandes predadores, como o tubarão, vêm sofrendo mundialmente declínio das suas populações. Este declínio é, em grande parte, provocado pelas campanhas de abate promovidas pelos governos e causa um grande desequilíbrio no funcionamento de um ecossistema. Em contrapartida, o número de registros de ataques de tubarão em áreas costeiras também cresceu nos últimos anos. Isso demonstra que, diferente do que se poderia pensar, “predar um predador” não vai fazer com que os ataques a nós, ‘presas’, diminuam.
A partir da preocupação com a segurança das pessoas e tendo a noção da importância de predadores como o tubarão, foi feito um trabalho por pesquisadores da Califórnia (EUA) com o objetivo de determinar se a diminuição de ataques de tubarões está realmente ligada às medidas radicais de caça tomadas por governantes (e população). A análise foi feita com dados da costa da Califórnia, que representa um setor do oceano bem monitorado e onde a maioria dos ataques de tubarões é atribuída a tubarões brancos (Carcharodon carcharias). Foi utilizado o número de ataques que ocorreram entre 1950 e 2013 e relacionados a informações do uso do oceano pelo homem, tanto de atividades comerciais como recreativas. Por fim, foi estimado o número esperado de ataques a qualquer hora e localização, o risco individual de vivenciar um ataque de tubarão, e a mudança ao longo do tempo e espaço do risco de ser atacado por um tubarão.
Matar tubarão não é a solução!

Quando todas as estimativas foram combinadas, percebeu-se um significante declínio da taxa de risco de ataques de tubarão de aproximadamente 93% ao longo de todo o período. Isso significa que os frequentadores do oceano estão mais seguros agora do que nos últimos 63 anos!
Mudanças comportamentais, tanto em tubarões como humanos, podem ser a resposta para o decréscimo das interações que resultam em ferimentos. Outra explicação pode ser a mudança da distribuição espacial dos tubarões: com a localização de suas presas longe das áreas frequentadas por humanos, os tubarões podem ficar concentrados em um local relativamente menor e menos inclinados a explorar fontes de alimento alternativas. Essa é uma hipótese interessante, porque indica que a conservação efetiva de populações marinhas ameaçadas pode resultar em uma segurança pública maior.
A probabilidade de ser mordido por um tubarão é extremamente baixa. Mas é claro que os ataques podem de fato ocorrer, no entanto é possível formular estratégias alternativas para melhorar a segurança nas praias, ao mesmo passo em que as populações ameaçadas de tubarões sejam conservadas. A segurança pública sempre será uma prioridade, mas ela não anula a possibilidade da concomitância e coexistência de nossa espécie com grandes predadores. Uma espécie não precisa ser protegida em detrimento de outra, não é uma questão de ‘8 ou 80’. Um entendimento melhor do comportamento, distribuição e papel ecológico dos tubarões, assim como os fatores que influenciam no risco de acidentes (fatais ou não), provavelmente é a forma mais efetiva para humanos estarem em segurança enquanto desfrutam da natureza.
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Março/2016​
Autora: Melina Martello ​
Para saber mais: Ferretti, F.; Jorgensen, S.; Chapple, T.K.;
De Leo, G.; Micheli F. 2015. Frontiers in Ecology and the Environment. DOI: 10.1890/150109