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A ecóloga Dra. Maíra Benchimol de Souza, doutora em Ciências Ambientais pela University of East Anglia, é Professora Visitante em Ecologia e Conservação da Biodiversidade pela Universidade Estadual de Santa Cruz. Dra. Benchimol leciona nessa mesma universidade na graduação e pós graduação. Há 10 anos ela vem atuando na área de Ecologia da conservação, com ênfase em Fragmentação Florestal e suas consequências na Ecologia e Conservação de Médios e Grandes mamíferos, mais especificamente em primatas. De 2011 a 2014 coordenou o projeto "Consequências ecológicas de mega-hidrelétricas sobre a comunidade de vertebrados na Amazônia Central brasileira”, estudando os efeitos da construção de hidrelétricas a longo prazo sobre a diversidade, através do estudo de vertebrados terrestres e arbóreos de grande porte.

Entrevista: Dra. Maira Benchimol de Souza

Há negligência nas avaliações sobre o impacto de barragens?

As avaliações destes empreendimentos não consideram os efeitos na biodiversidade. Eles buscam avaliar impactos sociais e econômicos. Como compensação ambiental realizam um resgate de fauna, onde apenas alguns indivíduos de vertebrados são retirados da área inundada e são transferidos para áreas de floresta contínua adjacente, o que muitas vezes pode ainda ocasionar impactos nas comunidades que habitam essas áreas. Em alguns casos, áreas de proteção integral são criadas como forma compensatória, principalmente nas ilhas formadas pelo enchimento da represa. Apesar de serem importantes, estas reservas não garantem que as espécies de mamíferos não entrem em extinção. Desta forma, minha pesquisa de doutorado recomenda que as avaliações ambientais de empreendimentos hidrelétricos considerem os efeitos na biodiversidade.

 

Em sua opinião qual seria o melhor modelo de reservas de proteção Integral? E qual seria a mais viável?

Não existe um melhor modelo de reserva, tudo depende do contexto. Se pessoas moram na área e necessitam dos recursos naturais da floresta para sobreviverem, o indicado não é a implementação de reservas de proteção integral, e sim de reservas de uso sustentável. Cada caso é um caso e precisa ser cuidadosamente avaliado.

 

Você acha a legislação ambiental brasileira frouxa em relação aos projetos de infraestrutura de energia?

No Brasil a gente sabe que o poder político vence a legislação ambiental. Temos leis bastante exigentes, e se fôssemos segui-las fielmente, quase nenhuma dessas novas barragens planejadas para Amazônia seria construída. Não é a toa que a ex-ministra Marina saiu do cargo por ser contra a aprovação de Belo Monte - o poder político falou mais alto e por isso todas as barreiras de licenciamento foram aos poucos sendo aprovadas. Nosso problema não é de legislação, mas sim de aplicação da lei.

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Você acha que a legislação ambiental brasileira é suficientemente eficaz para penalizar os projetos de infraestrutura de energia hidrelétrica que não se preocupam com os impactos ambientais?

Novamente, pelas leis, sim. Mas pela execução, não.

 

Quais serão as perspectivas de futuro das usinas hidroelétricas já existentes e futuras, em termos gerais?

Acredito que se a política atual se mantiver, novas hidrelétricas serão construídas nos próximos anos, como planejado pelo PAC. Elas irão resultar em inundação de florestas primárias, afetando diretamente a biodiversidade, tanto aquática quanto terrestre, e lançando gases do efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Além dos danos ecológicos, não podemos esquecer dos danos sociais, com o deslocamento de milhares de indígenas e ribeirinhos. 

 

Algum dos noticiários ou entrevistas se pronunciou de alguma maneira que você não gostou? Caso foi falado algo de errado, o que precisa ser consertado?

Gostei bastante da posição da mídia na divulgação dos resultados. Muitos repórteres agendaram entrevistas e me enviaram os textos para pré-aprovação. Não sei se olhei todas as reportagens, mas as que eu vi divulgaram corretamente os dados.

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Há algo que não ficou bem esclarecido nas divulgações? Ou até mesmo algo que ainda queria ter falado?

Acho que é mostrar para a sociedade que as hidrelétricas ditas como 'limpas' pelo governo são na verdade bastante 'sujas'. Amigos não cientistas, assim como familiares me disseram que não faziam idéia que hidrelétricas inundavam florestas virgens e extinguiam localmente diversas espécies. Então acho que essa repercussão é a mais importante. Mas adicionalmente, foi importante mostrar para o governo que cientistas estão estudando os impactos e buscando medidas de no mínimo compensar os danos ambientais causados.

Neste mês de abril, a revista Ciência Hoje publicou nosso artigo sobre os impactos de hidrelétricas sobre a fauna e a flora. É basicamente um resumo dos principais resultados de minha tese de doutorado, escritas de forma simples para atingir a sociedade em geral, incluindo estudantes de colégio. Estou ansiosa para repercussão deste trabalho, e espero que ajude bastante na disseminação da informação de que hidrelétricas não são alternativas limpas e sustentáveis para a biodiversidade.

 

Qual repercussão do seu artigo que acha mais importante?

Acho que é mostrar para a sociedade que as hidrelétricas ditas como 'limpas' pelo governo são na verdade bastante 'sujas'. Amigos não cientistas, assim como familiares, me disseram que não faziam idéia que hidrelétricas inundavam florestas virgens e extinguiam localmente diversas espécies. Então acho que essa repercussão é a mais importante. Mas adicionalmente, foi importante mostrar para o governo que cientistas estão estudando os impactos e buscando medidas de no mínimo compensar os danos ambientais causados.

Neste mês de abril, a revista Ciência Hoje irá publicar nosso artigo sobre os impactos de hidrelétricas sobre a fauna e a flora. É basicamente um resumo dos principais resultados de minha tese de doutorado, escritas de forma simples para atingir a sociedade em geral, incluindo estudantes de colégio. Estou ansiosa para repercussão deste trabalho, e espero que ajude bastante na disseminação da informação de que hidrelétricas não são alternativas limpas e sustentáveis para a biodiversidade.

 

Quais são seus projetos atuais, e as perspectivas para o futuro?

Após finalizar meu doutorado, eu iniciei meus pós-doc na UESC e comecei a me envolver nas pesquisas do Laboratório de Ecologia Aplicada à Conservação. Nosso principal objetivo é avaliar como a perda de cobertura florestal na escala de paisagem afeta diferentes grupos biológicos e quais são os limiares de cobertura necessários para conservação desses grupos na Mata Atlântica. Tenho trabalhado com diferentes grupos biológicos nesse sentido, e contribuído com a pesquisa de alunos de mestrado e doutorado. Adicionalmente, sigo realizando pesquisas na Amazônia, tanto na Hidrelétrica de Balbina como em Unidades de Conservação de Uso Sustentável e Terras Indígenas nos rios Purus e Juruá. Tenho uma ligação muito forte com a Amazônia e pretendo continuar realizando pesquisas em ambos os biomas, contribuindo com medidas práticas de conservação da biodiversidade.

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Entrevitadores: Eliude B. Matos, Tamires Leite e Juliana Surubim, 

Entrevista reaslizada em Março/2016

© 2016 por Instituto de Biociência - UFMT. Orgulhosamente criado por Yanka Valéria

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